sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Os animais e as pessoas

A visão que muitas vezes estás sozinha com o teu pensamento, com a tua abordagem ao mundo, com a tua maneira de ver o mundo, o que acontece muitas vezes, coloca-me numa situação de não carneirismo. Dá-me a perfeita noção que em muitas circunstâncias penso de maneira diferente. Recuso-me a ser mais uma entre muitos e que faz igual, porque é assim que todos esperam e é assim que se faz e é assim que se deve fazer.
Parece que existe um protocolo de ver, fazer e falar com um enquadramento e complacência em determinadas situações que só assim podem ser aceites por todos, caso contrário és maluca, ridícula, deselegante ou mesmo tens a mania que és melhor que os outros. Não que não haja o protocolo de vivermos em sociedade. Respeito os termos de convivência em sociedade, do civismo e do espaço do outro. Diria que até respeito demais. O que não consigo é não deixar de respeitar o meu espaço e a minha visão, quando me pedem essa anulação.
Há muito tempo, muitos anos que sei que o que me define como ser humano, não é o que faço ou o que sou, mas aquilo que quero dar aos outros e aquilo que espero da vida. Das pessoas já espero muito pouco e poucas ou nenhumas expectativas tenho. Ainda aqui e ali vou achando que posso ter alguma expectativa, mas é tão baixa que a desilusão é muito pequena.

Recentemente, o meu querido cão morreu. Desde os três meses de idade que estava connosco, estava em nossa casa. Era um companheiro que víamos como parte da família. Apesar do seu grande porte e de ter espaço no jardim, para correr e estar em liberdade, queria sempre dormir em casa e estar dentro de casa, comer o que comíamos e estar ao pé de nós. No seu instinto animal procurava a sua liberdade e lá ia fingindo quando o portão estava aberto para um passeio de liberdade só dele. Dava uma volta ao quarteirão e voltava, feliz de ter autónomo no seu passeio. Corria muito e gostava que olhassem para ele a correr, eu principalmente. Era forte e leal. Peludo e feroz. Doce e meigo, Foi com grande desgosto que o vi partir. Nunca soube o que ele pensou, nem o que achava. Mas sentia que era da minha família. Nas ultimas duas semanas vi-o sofrer, definhar sem conseguir andar que ele tanto gostava. Sofreu tanto que só de pensar que nunca soube se fiz o suficiente me martiriza. Ensinou-me que mesmo já sem conseguir andar queria viver e continuava a querer levantar-se para passear passear e se esforçava até à ultima. Quase paralitico, doia-me perceber que se queria levantar e não conseguia. Como alguém disse: estes cães são estoicos. Ele era e foi até às ultimas horas estoico, na ultima hora depois de o pormos em pé, cambaleou e deu o seu ultimo passeio, em grande sofrimento, tenho a certeza. Irei para sempre guardá-lo na minha memoria como o meu cão, o meu Fluffy, aquele que todos os dias esperava ao cimo da rampa por mim, a abanar a cauda peluda, e logo que eu abria a porta se deitava ao pé de nós, esticado no chão a ocupar a sala e a passagem. Nunca pensei que me pudesse fazer sentir tão triste a sua partida, o seu sofrimento e sobretudo a sua ausência. O Fluffly quando lhe pediam a pata ele dava a pata, nos ultimos dias quando o pediamos ele punha a pata para trás, como dizendo, já não te posso dar a para. As suas orelhas peludas e fofinhas deste Serra da Estrela, era como um indutor de relaxamento, para quem lhe fazia festas. Faz-me falta.  Dou comigo a ter os mesmos comportamentos como se ele ainda ali estivesse. Fazes-me falta.

O que espero da vida, espero-o há muito tempo. Não no sentido de projecto de vida, pois esse foi totalmente preenchido pelo nascimento da minha querida filha. Mas o que espero do amor ou o que o amor me dê. São pequenos gestos, pequenos demonstrações de "tu és importante", "tu contas" e "eu estarei sempre ao teu lado". Já abdiquei de muita coisa na vida. Já perdoei muitas vezes. Já ultrapassei muitos desaforos a pessoas que são mal formadas e que estão na vida como um acção está na bolsa, Tudo tem um valor, e até podemos trocar, mas a seu tempo, quando sobre ou desce. Mas a vida também já me ensinou que não chega perdoar. As pessoas vão repetir as mesmas acções ou palavras.
Não há nada pior na vida que um ser humano que na sua condição de imortal acha que pode dizer tudo o que lhe vai alma e depois a seguir pedir desculpa. Nada retira aquelas acções ou aquelas palavras. A partir daí só o gesto de querer fazer um pouco melhor pode contar.

Já fui amada por muitos. Muitas paixões assolapadas passaram por mim, dessas paixões existiu sempre o amargo que se não forem compensados na devida visão própria, tornam-se vingativos e dão um retorno de nada mais tenho para dar.

Amor não é dar. Amor é cuidar. Amor para mim é a troca de um momento que é naquele momento que é preciso. Nada passa duas vezes, nada acontece duas vezes. Amor para mim é quando mesmo quando tudo corre mal, está lá alguém que abraça, cuida e sem moeda de troca em silêncio da sentir o seu amor.

Sou parca na manifestação do amor. É um estilo. Não sou de grandes manifestações de carinho. Não tenho grandes planos de surpreender ou de planear coisas românticas. Mas estarei sempre lá quando é preciso. E mesmo quando não é preciso.
Preciso de pouco e pouco ou nada peço. Como alguém me disse não tenho esse direito. Fi-lo há pouco tempo. Pedi. Pedi apenas porque precisava de um abraço, de um espaço, de  um tempo, para me refortalecer. Não veio, não havia. O que pedia era um grande sacrifício ao qual não tinha direito de pedir. Bem verdade! Não tenho o direito de pedir nada a ninguém.
E assim vai o amor dos humanos, sempre cheio de contra partidas, muitas palavras azedas de revolta, muita vingança e muito pouca vontade de fazer algum tipo de concessão sem nada em troca.

Tenho saudades de ti FLUFFY nunca me pediste nada em troca. Como a Brigitte Bardot dizia: Quanto mais conheço os humanos mais gosto dos animais. O que me parecia na altura uma loucura, hoje, revejo-me, compreendo e sinto que é no amor incondicional que estará a verdadeira essência do amor. O amor que só os animais nos podem dar.

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