quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Alheio a tudo. Ali estava ele. Dormia tranquilamente. Só de olhar trazia-me paz. Uma paz que não encontro. Uma paz que preciso e não vem. É um turbilhão de pensamentos. Ocorre-me sempre o fim e um caminho que não acaba, sem fim e escuro. Não tenho medo, mas estou cansada. Apetece-me deitar-me ao lado dele para que a paz dele me chegue também. Para que ele me dê aquela tranquilidade e quietude de quem não tem com que se preocupar ou sentir em sobressalto. Ocorre-me fugir. Ocorre-me tentar voltar atrás  e tentar repetir tudo de novo. Como quem tenta repetir um teste à procura de uma nota mais satisfatória. Ocorre-me deixar-me ir.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

A vida

Com o passar dos anos, de repente, temos mais de quarenta. Quando olhamos para trás, não foi só depressa que passou. Já nem nos lembramos como se passou cada ano com clareza. Já não nos lembramos se sugamos a vida ao máximo ou se foi a vida que nos sugou a nós, em cada ano que passou. Não foi só num ápice que passaram as últimas décadas sem darmos o real valor da vida, ao mais precioso bem da nossa vida. A nossa vida. 
Quanto vale a nossa vida? Para nós e para os outros? 
Quanto estamos dispostos em investir nesta vida para sermos melhores, para conseguirmos ser mais felizes, para nos sentirmos bem com a vida que temos? 
Quanto mais felizes somos, mais valor há na nossa vida? 
Quanto mais temos ainda por fazer e experimentar, mais valor há na nossa vida?

Estamos vivos e tudo vivemos? Talvez sim! Mas falta-nos o peso da alegria das experiências que achamos quer perdemos, que poderíamos ter feito diferente e até que decidimos que não tinham interesse. Com o passar dos anos parece que não me lembro de tudo. Tenho medo de me esquecer. 

Foi o pouco tempo que temos, as preocupações com os filhos, a carreira que paga as contas, o cansaço físico depois de uma semana de trabalho, aquele episódio que nos deixou triste, aquela pessoa que nos lixou, as responsabilidades, as filas no transito, sei lá... 

E depois fica pouco tempo para sorrirmos e para estarmos vivos, vivos de vida. Daquela vida que nos envolve e nos aperta. Daquela vida que nos faz sentir vivos, daquela que nos dá as emoções, os sentimentos e nos faz estremecer. Daquela que nos faz pôr o sorriso nos lábios e sentirmos-nos mais vivos.

Entretanto, já passaram mais de quarenta anos... O corpo que vai envelhecendo a passos largos, não larga um cérebro mais novo. E damos por nós a olhar para os miúdos com um olhar de miúdos, mas sem ser miúdos e pior sem ser percebidos que um dia fomos miúdos.

Não tenho tristeza do que não vivi ainda, tenho tristeza daquela juventude que foi tão rápida e que me aprisionou de certa forma e que agora me cobra mais.

Hoje tenho a certeza que quero aquela vida que saboreia o mundo, aquela que, apesar das filas de trânsito e das contas para pagar, nos dá aquele sorriso sem esforço e sobretudo sem pedir.