Chove torrencialmente. Está tudo pingão e
cinzento. Do meu gabinete vejo o Cristo-Rei metido dentro das nuvens cinzentas.
Os tons de cinzento escuro estão por todo o lado e a paisagem esconde-se atrás
de um nevoeiro que não deixa ver as cores e o desenho dos prédios coloridos de
Lisboa. O recorte pequeno do rio Tejo que vejo da minha janela está tão escuro
que parece um poço. Este
cinzento confunde-se com o meu estado de alma. Entranha-se. Nestes dias que te
retalham a alma com traz-me à memória os dias intermináveis da semana chuvosa
quando era pequena. Não gosto de pisar as poças de água, molho os sapatos,
tenho frio. O frio não te deixa viver, às vezes ver, às vezes sentir
aquela brisa de vida que o sol traz. Preciso de ver as cores todos os dias.